Tradução: Gabriela Soares Editora: Aleph


Resumo

Nós é um romance distópico escrito russo por Yevgeny Zamyatin, publicado em 1924. Considerado um precursor de obras como Admirável Mundo Novo e 1984, o livro explora uma sociedade totalitária onde a lógica e a razão matemática dominam, suprimindo a individualidade e a liberdade.

A história se passa no Estado Único, uma sociedade futurista construída inteiramente de vidro e aço, onde a vida é rigidamente controlada e padronizada. Após a “Guerra de Duzentos Anos”, que devastou o mundo, o Estado Único emergiu com a promessa de trazer a felicidade e a ordem absolutas através da eliminação da liberdade.

Neste mundo, os cidadãos são conhecidos por “Números” (e não por nomes), e suas vidas são regidas por uma tabela de horários que determina cada ação, desde o despertar até o sono. A privacidade é inexistente, pois todas as paredes são transparentes, e a conformidade é a norma. A natureza é vista como um elemento caótico e perigoso, separada da cidade por um Muro Verde. O único momento que possuem uma certa “privacidade” é no momento das relações sexuais. Não existem parceiros(as) fixos, porém as pessoas devem previamente estabelecer com quem tem relações, e preenchem “bilhetes cor-de-rosa” com os horários marcados para tal.

O líder supremo é o Benfeito, reeleito anualmente por unanimidade, que personifica a perfeição da lógica e da razão. A felicidade é alcançada através da obediência e da ausência de emoções “irracionais” como o amor, a paixão e a individualidade.

A narrativa é apresentada como um diário escrito por D-503, o protagonista e um dos principais engenheiros da nave espacial “Integral”, que está sendo construída para levar a “razão” do Estado Único para outros planetas. À medida que D-503 se envolve com I-330 e o movimento rebelde, ele começa a questionar os fundamentos do Estado Único. Ele experimenta emoções como o amor, o ciúme e a dúvida, que o levam a uma crise existencial. A “fantasia” (a alma, a emoção) é vista como uma doença pelo Estado Único, e os que a possuem são submetidos à “Grande Operação”, uma lobotomia que remove a parte do cérebro responsável pela imaginação e emoções.

A seguir uma das minhas passagens preferidas do livro:

  • Você compreende que o que está sugerindo é revolução?
  • Certamente, é revolução. Por que não?
  • Porque não pode haver uma revolução. Nossa revolução foi a última e não pode haver outra. Todos sabem disso.
  • Meu querido, você é matemático; me diga: qual é o último número?
  • Mas isso é absurdo. Números são infinitos. Não pode haver último. -Então porque você fala obre a última revolução?

Citações

  • p. 128 O que é isso? Como assim, alma? Uma alma, você disse? Mas que diabo é isso? Desse jeito chegaremos logo à cólera. Eu disse a você (com o muito delgado doutor nos chifres) - eu disse: a imaginação de todos… é preciso… É preciso extirpar a imaginação! Aqui cabe apenas a cirurgia, apenas a cirurgia…

  • p. 200 Não, eu não compreendia. Mas em silêncio assenti com a cabeça. Eu me dissolvi, eu era infinitamente pequeno, um ponto… No fim das contas, nesse estado de ser um ponto, existe uma lógica própria (de hoje): mais do que tudo há incertezas em um ponto; basta colocar-se em movimento, agitar se e ele pode se transformar em milhares de curvas diferentes, centenas de corpos. Estava aterrorizado em me mover: em que me transfor marei? E me parece que todos estavam assim, como eu, com medo do menor movimento. E agora, enquanto escrevo isso, todos estão sentados, escondendo-se em suas gaiolas de vi-dro, esperando por alguma coisa. No corredor, não se ouve o habitual zumbido do elevador nesse horário, não se ouvem risos, passos. Às vezes vejo pessoas em pares olhando, passando nas pontas dos pés pelo corredor, sussurrando… O que acontecerá amanhã? No que me transformarei amanha?

  • p 214 De trás, da densidade espessa de corpos respiran- tes, uma voz alta:

  • Mas tudo isso é loucura! E parece que eu - sim, acho que fui eu mesmo - subi na pedra e de lá vi o sol, as cabeças sobre o azul, uma linha verde denteada, e gritei:

  • Sim, sim, exatamente! É necessário que todos fiquemos loucos, é imprescindível que fiquemos todos loucos, o mais rápido possível! É imprescindível, eu sei. I estava ao meu lado; seu sorriso era duas linhas escuras saindo do canto da boca para cima, formando um